Veiros
Artesãos - Esteiras de Bunho (Artesã)
Maria Fernandina da Silva Pereira Henriques
48 anos
O fabrico de esteiras de Bunho era uma prática corrente na freguesia de Veiros até há 40 anos atrás. Este material, feito a partir de uma planta que nascia na zona lagunar da Ria de Aveiro, era essencialmente utilizado para proteger objectos de grande porte para exportação. Os vagões dos navios forrados com as esteiras, protegendo assim os materiais que transportavam.
Na nossa região as esteiras eram utilizadas para proteger o milho a secar nas eiras e para colocar debaixo dos colchões de palha, para estes se tornarem mais duros.
Actualmente as esteiras são utilizados apenas como artesanato e são vendidas no mercado tradicional.
Pergunta (P): Quando é que aprendeu a fazer as esteiras de Bunho?
Resposta (R): Primeiro aprendi primeiro a fazer a bracinha, que é o material utilizado para amarrar as esteiras, e só depois comecei a fazer as esteiras. É o primeiro trabalho que tem que ser feito. Eu comecei a fazer isto ensinada pela minha mãe e pela minha avó. Era uma tradição de família. Quando vinha da escola fazia isso. Só mais tarde comecei a fazer esteiras porque tem que ser bem apertado e quando éramos pequenas não tínhamos força para isso. As esteiras fazem-se num “cavalo” de madeira. Antes Veiros até era conhecida pela terra do “cavalo à porta”.
P: Antes havia muitas pessoas a fazer esteiras?
R: Antigamente havia muita gente. Havia pessoas que faziam isso regularmente, todo o dia, era esse o trabalho delas. Para outras pessoas, como era o que acontecia em minha casa, faziam-se apenas no Inverno quando já não havia o trabalho do campo.
P: Qual é a utilidade das esteiras?
R: Havia esteiras maiores e mais pequenas. As maiores eram utilizadas para cobrir o milho nas eiras. As pequenas faziam-se para forrar, para proteger peças de mobiliário para exportação quando iam nos navios. Servia também para colocar por baixo dos colchões, para os tornar mais rijos, porque estes antes eram de palha. Há 40 anos atrás faziam-se dúzias de esteiras por dia e também se vendiam muitas.
Quando eu fui para os Estados Unidos, com 18 anos, as esteiras já estavam em desuso, já não havia muito quem comprasse. Agora só faço para não esquecer a tradição e para ocasiões muito especiais.
P: Para termos uma ideia quanto é que custava há 40 anos adquirir uma esteira grande?
R: As que fazíamos para vender ficavam 12 tostões (escudos) a dúzia. Quando havia muita gente a fazer ficava sempre mais barato. Faziam-se molhos grandes e em Veiros havia duas pessoas que compravam para depois voltar a vender.
Agora se formos a comprar uma esteira, cada uma pode chegar a custar 5 Euros. Agora essas peças são compradas como artesanato, só para que não se perca a tradição, mas que já ninguém usa isso. Antes as pessoas não tinham outros rendimentos e faziam isso.
Fazer esteiras era uma coisa que não dava muita despesa. O único encargo que tinham era na compra do Bunho, que ia-se comprar na marinha (Ria de Aveiro). Essa planta era comprada em Frossos e depois era transportada para a Ribeira de Veiros de barco. O junco não era necessário comprar só se tinha que ir à marinha apanhar.