Freguesia de Beduído e Veiros

Acta

Acta da reunião ordinária da Junta da Freguesia de Veiros, do Concelho de Estarreja, celebrada no dia trez de Fevereiro do ano de mil novecentos e sessenta e trez, pelas dezassete horas, na sala das sessões da mesma Junta. Aos trez dias do mês de Fevereiro do ano de mil novecentos e sessenta e trez , sob a Presidência do Excelentíssimo Senhor João Carlos de Assis Pereira de Mello, assistiram os vogais José da Conceição e Sousa e José Maria Pereira, servindo este de Secretário. --Declarada aberta a presente reunião foi lida, aprovada e assinada a acta da reunião antecedente celebrada no dia seis do mês de Janeiro do corrente ano. -- Em seguida pelo Excelentíssimo Presidente passaram a ser feitas algumas considerações e apreciações acerca das péssimas estradas e fontes desta freguesia. Para o assunto novamente e mais uma vez, por esta forma chamamos a atenção do Excelentíssimo Presidente da Câmara Municipal. Nos diversos lugares que compõem esta populosa freguesia, principalmente nos que não são atravessados pela estrada nacional, e o movimento é mais intenso, é horrível o que se vê. Não se compreende a razão do abandono a que a Câmara Municipal votou esta freguesia! O pavimento das estradas, transformado em buracos, sendo os maiores autênticos poços, são um perigo eminente mesmo para as pessoas que tem boa vista e pernas, quanto mais para velhos e frouxos. Em alguns aquedutos de ligação da Nacional para as Municipais, que dão passagem e esgoto das águas das valetas, existem buracos que são autênticas ratoeiras, para partir pernas de racionais e irracionais! Assim, dado o meu pequeno conhecimento dos problemas administrativos e económicos, conhecendo-os durante quarenta e tantos anos, não está certo tão grande abandono, votado a uma freguesia que, além de contribuir para os cofres do Município, de boa ou má vontade os seus habitantes e contribuintes trabalhavam e muito, sem qualquer remuneração, contribuindo para os cofres do Município com muitas centenas, senão milhares de escudos. Era assim nos tempos em que os Presidentes das Câmaras percorriam as freguesias do Concelho, palmilhando as estradas e caminhos para se certificarem das reclamações e necessidades dos Munícipes, com a única recompensa da gratidão dos mesmos. Vamos agora ás fontes que, mais ou menos cuidadas noutros tempos existem nesta freguesia. Então existia nesta freguesia, apenas um cantoneiro que cuidava, devidamente, da reparação das estradas e caminhos e ainda da limpeza das fontes, cuja água era aproveitada para o consumo público. Agora, ho! Agora com excepção da situada na Breja são autenticas colvacas, onde os animais, racionais e irracionais, vão satisfazer as suas necessidades, dado o abandono a que foram votadas com perigo para a saúde publica, sendo, por isso, designadas fontes do cagalhão. A da Breja, cuja água foi analisada, como deve constar dos arquivos da Secretaria da Câmara, e dada como boa para o consumo publico, em virtude da abundância do seu caudal, utilizaram-se suas sobras para um lavadouro publico, com a oferta gratuita do terreno indispensável para coradouro, pertença do então Presidente da Junta desta Freguesia, já falecido, o senhor António Marques Couto. E agora? Segundo oiço dizer, já não é aproveitada água para beber, por falta das condições higiénicas na captação da sua nascente! Tudo isto, que é revoltante, dá vontade de dizer: Raisparta o progresso que se vem fazendo sentir nesta freguesia. Postas estas considerações, devemos salientar a decisão dos antigos Presidentes deste Município, dentre eles, nos últimos tempos, o senhor Padre António Maria de Pinho, de saudosa memória. Ele trabalhava em benefício deste concelho para o seu progresso, mas com a máxima economia. E assim, com a sua habilidade, até de Engenheiro fazia! Haja em vista a planta, pelo mesmo levantada, para instalação da rede eléctrica em todo o concelho, com cujo serviço meteu nos cofres da Câmara algumas dezenas de contos, plantas que foram assinadas por um Engenheiro, mediante uma importância de poucas dezenas de escudos. E ainda o abastecimento de milho para fornecimento de boroa aos remediados e pobres, e açúcar para todo o concelho com cuja despesa chegou a ter comprometida a sua fortuna pessoal! E tudo isto, sem que, até agora lhe tenha sido prestada a digna homenagem do Município! Pelos vogais desta Junta de Freguesia foi declarado que, concordando em absoluto com as considerações do seu presidente por as acharem justas e oportunas, foi resolvido que fosse enviada cópia desta parte da acta ao Excelentíssimo Presidente da câmara, para os devidos efeitos. -- Nesta foram presentes e lidos os seguintes ofícios: Um sob o número mil duzentos e setenta do Presidente da câmara Municipal deste Concelho convidando esta Junta de Freguesia para se fazer representar na posse ou transmissão de poderes do Governador Cível deste distrito, senhor Doutor Manuel Ferreira Santos Lousada. Tomado conhecimento fazendo-se esta Junta de Freguesia representar naquele acto. Outro do mesmo senhor presidente da Câmara Municipal, solicitando lhe seja enviada cópia do edital afixado em Janeiro que anunciou a inscrição, mediante requerimento, dos Chefes de família nos cadernos do Recenseamento dos mesmos, que reúnam as condições de capacidade eleitoral. Tomado conhecimento cumprindo-se. Outro do mesmo Presidente da câmara enviando um edital para ser afixado nos lugares públicos desta freguesia em que se torna público que o respectivo recenseamento deverá ser revisto anualmente actualizando-o com a inscrição de novos eleitores ou com a eliminação daqueles cuja inscrição não seja de manter. Tomado conhecimento cumprindo-se nos termos da legislação em vigor. Outro ainda do mesmo Presidente da Câmara Municipal nomeando para fazer parte da Comissão de Recenseamento dos Eleitores da Assembleia Nacional, os seguintes cidadãos: Presidente da Junta desta Freguesia, que será o Presidente da mesma, o regedor e Alfredo de Oliveira Nunes, na qualidade de delegado do Excelentíssimo Presidente da Câmara. Este Recenseamento terá como base o recenseamento do ano anterior acrescido dos cidadãos que sabem ler e escrever o requerimento, serviços estes a que procederá nos termos do artigo quarto da Lei dois mil e quinze de vinte e oito de Maio de mil novecentos e quarenta e seis ou seja nos termos da Lei Eleitoral em vigor. Tomado conhecimento cumprindo nos termos da referida Lei. Outro do Presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro, agradecendo a importância de trezentos vinte e cinco escudos e setenta centavos pelo peditório realizado nesta freguesia para aquela Instituição. Tomado conhecimento, arquivando-se a respectiva guia. E nada mais havendo a tratar na presente reunião, foi ela encerrada da qual para constar se lavrou a presente acta que foi lida, aprovada e assinada na reunião ordinária celebrada no dia trez de Março do corrente ano, depois de lida por mim José Maria Pereira, Secretário que a subscrevi e assino.