Freguesia de Beduído e Veiros

Acta

Acta da reunião ordinária da Junta da Freguesia de Veiros, do Concelho de Estarreja, celebrada no dia dez de Junho, do ano de mil novecentos e sessenta e dois, pelas nove horas na sala das sessões da mesma Junta. Aos dez dias do mês de Junho, do ano de mil novecentos e sessenta e dois, sob a Presidência do Excelentíssimo Senhor João Carlos de Assis Pereira de Mello, assistiram os vogais José da Conceição e Sousa e José Maria Pereira, servindo este de Secretário. -- Declarada aberta a presente reunião, foi lida, aprovada e assinada a acta da antecedente celebrada no dia um de Abril do corrente ano. -- Nesta foi presente um oficio sob o numero seiscentos e vinte e seis, do Excelentíssimo Presidente da Câmara Municipal deste concelho, comunicando da parte da Direcção Hidráulica do Mondego que os respectivos estão a preparar planos para melhoramento dos poços de rega, afim de aumentar a capacidade do depósito das águas, os quais, serão construídos em alvenaria ou materiais que lhes assegurem a impermeabilidade aumentados com pequenas levadas de terra, pedindo se lhe diga, com a possível brevidade, se nesta freguesia existem casos destes, que possam interessar, para melhoramento de regas. Tomado conhecimento, oficiando-se a comunicar que não há casos destes que interessem a esta freguesia. -- Pelo Excelentíssimo Presidente foi dito que, como é do conhecimento dos habitantes desta freguesia, em princípios do mês de Outubro do ano de mil novecentos e sessenta e um, o Cruzeiro situado na bifurcação da estrada nacional com a estrada das Olas, no lugar da Igreja, foi destruído por um camião. Averiguada a responsabilidade do proprietário do veiculo causador do prejuízo, o Presidente da Junta, nos termos do numero treze do artigo duzentos e cinquenta e trez do Código Administrativo, conjuntamente com o digno Pároco desta freguesia, dirigiram-se ao mesmo que declarou ter-se entendido com a companhia de seguros Comércio e Industria, com sede em Lisboa. À referida companhia nos dirigimos tendo-nos ela declarado que assumia a responsabilidade pelos prejuízos causados, e que, para isso, já havia comunicado ao seu delegado em Aveiro, para se entender com a Junta desta freguesia e com o Pároco, afim de se combinar a melhor forma de solucionar o assunto. Pelo delegado daquela companhia foi-nos pedido para nos entendermos com um cauteiro que no fornecesse os orçamentos para os trabalhos a realizar, ou seja, para a construção de novo Cruzeiro, o que o cauteiro fez, enviando-nos os orçamentos, que por seu turno remetemos ao referido delegado da Companhia em Aveiro. Mas, qual o nosso espanto quando apareceu no local um operário, encarregado pela companhia para o serviço de restauro do Cruzeiro, sem que fosse aquele que tínhamos indicado e nos havia fornecido os orçamentos! Concluído o trabalho, o que nos foi comunicado pelo delegado da companhia em Aveiro, fomos com o digno Pároco, ao local, verificando que o serviço havia sido muitíssimo mal feito, como ainda se pode verificar. Do delegado em Aveiro foi-nos enviado um documento, para ser assinado, mediante recibo da importância de mil e seiscentos escudos (1.600$00), valor da obra, que, por duas vezes, devolvemos sem a respectiva assinatura, visto que, já pelo procedimento incorrecto, da Delegação da Companhia, já pela forma como se encontra feito o serviço, entendemos não dever aceitá-lo nem tampouco assiná-lo. Em face do que se tem passado, como consta de vários documentos juntos a um processo que fica arquivado na sala das sessões desta junta, foi-nos novamente enviada uma carta – oficio do delegado da Companhia em Aveiro que, para os devidos efeitos, vai ser transcrita no livro de actas de reuniões deste Corpo Administrativo. “Excelentíssimo Senhor João Carlos de Assis Pereira de Mello, Veiros Estarreja. Acusamos recebida a prezada carta de V. Exa. que se fazia acompanhar da devolução do recibo de quitação por nós enviado a V. Ex.ª. e ao qual respondemos: Estranhamos o conteúdo da mesma, em virtude de julgar-mos o assunto absolutamente em ordem, o que não sucede. Depois da reclamação feita por V. Ex.ª. à sede desta Companhia, recebemos imediatamente ordens para mandar aperfeiçoar o Cruzeiro, polindo-lhe melhor as pedras, conforme desejo de V. Ex.ª., o que fizemos prontamente. A tratar desse embelezamento esteve aí um operário especializado, juntamente com o homem que prestou o serviço, que procurou V. Ex.ª. e o Sr. Abade, para dizer se o Cruzeiro estaria agora em ordem ou não. Posso garantir a V. Ex.ª. que esse homem trabalhou durante todo o dia nesse trabalho e que julgou o assunto em ordem, e justifica-se porquanto V. Exªs. nada disseram por esse segundo trabalho, não obstante já terem passado dois meses e meio. Escrevi a V. Ex.ª. no dia 23 de Março a transmitir-lhe que o homem estaria aí no dia vinte e oito, desse mesmo mês e era dever de V. Ex.ª ou estar ou mandar alguém para dizer se concordavam ou não com o serviço que o citado operário fez e não era agora passado todo este tempo que vem dizer que o assunto deve ser tratado com dignidade. Se o Cruzeiro não estava na altura como V. Ex.ª. desejava, o homem teria ficado o tempo necessário para atender V. Ex.ª. e assim evitaria deslocações e perda de mais tempo para um assunto que parece nunca mais acabar. Francamente, nunca tive um assunto que me fizesse perder tanto tempo e não sei mesmo como lhe hei-de dar solução, entretanto queira dizer V. Ex.ª. o que se há-de fazer mais ao Cruzeiro. Gratos pela atenção dispensada, subscrevemo-nos com elevada estima e consideração. De V. Ex.ª. muito atenciosamente: Assinatura ilegível” Em resposta e para por termo a esta malfadada questão, esta Junta de Freguesia delibera enviar ao Senhor Delegado em Aveiro da Companhia de Seguros Comércio e Industria um oficio nos termos constantes do que vai ser registado no livro competente sob o numero quatro. Delibera ainda consignar para os devidos efeitos que o assunto do Cruzeiro se encontra esclarecido em trez documentos que ficam a fazer parte do arquivo desta junta de freguesia. E nada mais havendo a tratar na presente reunião, foi ela encerrada da qual para constar se lavrou a presente acta que foi lida, aprovada e assinada na reunião extraordinária celebrada no dia um do mês de Julho do corrente ano, depois de lida por mim José Maria Pereira, Secretário que a subscrevi e assino.