Veiros

Artesãos - Constrói Miniaturas de Barcos Moliceiros

Antero Augusto Alexandre da Silva (Antero Canelão)
69 anos

Antero Canelão é um artesão que começou a sua vida de trabalho na apanha do Moliço (alga que se retirava da Ria de Aveiro e que era utilizado para fertilizar os terrenos agrícolas da região). Foi nesta vida dura de trabalho que começou a fazer as primeiras miniaturas de Barcos Moliceiros. Depois da abandonar a vida na ria continuou a cultivar o seu gosto por estas embarcações tradicionais e aos 69 anos constrói exemplares um pouco para todo o mundo.

Entrevista ao artesão

Pergunta (P): Quando é que foi para a apanha do moliço?
Resposta (R): Fui para a apanha do moliço aos 7 anos e estive lá até aos 38, altura em que fui trabalhar para as fábricas de Estarreja.

P: A apanha do moliço era um trabalho muito difícil?
R: Era uma vida muito difícil. Difícil, mas difícil, era trabalhar de noite e de dia, e por vezes cheios de fome que não havia para comer. Moliço havia bastante, mas não havia era o que comer. Por vezes havia quem comprava, outras vezes não, mas tudo se passou.

P: O moliço era para utilizar onde?
R: Era para os terrenos, pois nessa altura não havia adubos e essa alga da ria era para fortalecer os terrenos agrícolas. Uma barcada de moliço custava 12,5 Escudos, 25 Escudos, era conforme a época. Era sempre pouco dinheiro para muito trabalho. Muitas vezes de Dezembro até Março, tínhamos que ir para a Quinta, que é em Aveiro, e era preciso uma semana para fazermos uma barcada de moliço.

P: O seu gosto por fazer barcos moliceiros em miniaturas vem então do tempo em que trabalhava na apanha do moliço.
R: Eu desde esse tempo que gosto de fazer barcos moliceiros. Ninguém me ensinou, aprendi com a minha imaginação. Comecei a fazer os barcos quando ainda andava na apanha do moliço e depois de ir trabalhar para as fábricas continuei.

P: Isto é um produto que ainda se vende muito e tem muita procura?
R: Tenho muitas encomendas. Já vendi para os Estados Unidos, Venezuela, Holanda, e outros países, mas também para cá para a nossa zona. Vendo sempre para muitos lados.

P: Como é que se constrói uma miniatura de um barco moliceiro?
R: Um barco moliceiro tem que ser construído por partes. Primeiro tem que se botar as escoras, depois as tábuas da arrumação, o chamado fundo. Depois preparam-se as peças das cavernas, de seguida a da ré e a da proa. A seguir coloca-se os borros, as dragas, a tampa da proa, o trasto, cagarete, entre-mesa e o paneiro. Depois disso faz-se as falcas, a padiola, os ancinhos, as varinhas, ou seja os utensílios que eram utilizados na apanha do moliço. Depois de pintado está o barco terminado.

P: Quanto tempo demora em média a fazer cada barco?
R: Para secar as pinturas e tudo isso, demora mais ou menos três semanas. Mas não faço um trabalho continuado, é quando tenho tempo. Faço isto nos meus tempos livres.

P: Quanto é que custo adquirir uma miniatura de um barco moliceiro?
R: Um barco custa agora 100 Euros.

P: Tem alguém interessado em aprender esta arte?
R: Infelizmente ainda não apareceu aqui ninguém. Mas não me incomodava de os ensinar. Isto é uma coisa bonita e era uma tradição que ficava de uns para os outros.

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